Imagine um paciente que, apesar de apresentar um índice de massa corporal (IMC)
elevado, não demonstra qualquer sinal de comprometimento metabólico ou funcional.
Por outro lado, outra pessoa, com um IMC dentro da faixa considerada “normal”,
enfrenta doenças cardiovasculares e inflamação sistêmica causadas pelo excesso de
gordura corporal. O que está errado nessa equação? A resposta está no modelo atual
de diagnóstico da obesidade, que, até então, se baseava quase exclusivamente no
IMC.
A edição mais recente da The Lancet traz um editorial transformador, questionando a
dependência do IMC como método principal para diagnosticar a obesidade. Segundo a
comissão de especialistas da revista, esse modelo simplista falha em reconhecer as
nuances da doença e, por isso, propõe uma nova abordagem para definição e
diagnóstico da obesidade. O relatório da Lancet Diabetes & Endocrinology
Commission enfatiza que, embora o IMC possa ser útil para análises populacionais,
sua precisão no diagnóstico individual é limitada, podendo subdiagnosticar ou
superdiagnosticar a condição.
O Problema do Diagnóstico Baseado no IMC
O IMC tem sido amplamente utilizado para classificar a obesidade, mas seu uso
exclusivo tem limitações sérias. Ele não distingue entre massa gorda e massa magra,
não avalia a distribuição da gordura corporal e, mais importante, não identifica o
impacto do excesso de gordura na saúde de cada indivíduo. Segundo os dados
publicados, cerca de 30% das pessoas com obesidade clinicamente relevante não
seriam corretamente identificadas apenas pelo IMC. Como resultado, muitas pessoas
com riscos elevados passam despercebidas, enquanto outras são diagnosticadas
erroneamente.
Uma Nova Proposta: Preclinical e Clinical Obesity
O comitê da revista sugere uma nova classificação que difere a obesidade em dois
estágios: Obesidade Pré-clínica e Obesidade Clínica. Essa abordagem baseia-se não
apenas na presença de gordura corporal em excesso, mas também em sinais objetivos
de prejuízo à função dos órgãos e tecidos.
Obesidade Pré-clínica: caracteriza-se pelo excesso de gordura corporal sem
manifestação atual de doença, mas com alto risco de progressão para doenças
metabólicas e cardiovasculares.
- Obesidade Clínica: definida pela presença de disfunção de órgãos ou tecidos,
como alterações metabólicas, insuficiência cardiorrespiratória, inflamação
sistêmica e limitações nas atividades diárias.
Essa abordagem redefine o olhar clínico sobre a obesidade, permitindo diagnósticos
mais precisos e tratamentos mais individualizados.
Critérios Diagnósticos Mais Abrangentes
Para garantir um diagnóstico mais preciso, os especialistas recomendam a inclusão de
novos parâmetros além do IMC:
- Medições antropométricas: circunferência abdominal, relação cintura-quadril
e relação cintura-altura, que, segundo o relatório, têm maior correlação com
risco cardiometabólico. - Exames laboratoriais: perfil lipídico, glicemia, exames hepáticos e
inflamatórios. - Avaliação clínica: histórico de doenças associadas, limitações funcionais e
sintomas específicos relacionados à obesidade.
Esses critérios permitem que os profissionais da saúde avaliem com mais
profundidade o impacto do excesso de gordura corporal na saúde do paciente,
garantindo um tratamento mais direcionado e eficaz.

Implicações para a Prática Clínica
A nova classificação tem implicações diretas para médicos, nutricionistas e demais
profissionais da saúde. Em vez de se basearem apenas no IMC, os profissionais devem
considerar outros fatores diagnósticos, como medições de circunferência abdominal,
análises laboratoriais e avaliação de sinais clínicos de disfunção orgânica. Segundo o
estudo, essa abordagem pode reduzir em até 40% os erros diagnósticos associados à
obesidade. Isso garante um tratamento mais eficaz e um melhor direcionamento de
intervenções.
Por que os Profissionais da Saúde Precisam se Atualizar?
A obesidade é uma doença multifatorial e complexa, que exige uma abordagem
baseada em evidências sólidas e atualizadas. Profissionais que continuam utilizando
apenas o IMC como critério podem estar negligenciando diagnósticos ou propondo
intervenções inadequadas.
Além disso, a mudança na classificação pode impactar as políticas públicas e os
protocolos clínicos, tornando essencial que os profissionais estejam preparados para
essa nova abordagem. A adoção desses critérios pode influenciar diretrizes globais de
organizações como a OMS e o CDC nos próximos anos.
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Artigo: https://plenitudeeducacao.com.br/wp-content/uploads/2025/02/PIIS2213858724003164.pdf
Por: Gabriela Collaneri